Cadeias de abastecimento a caminho da normalização

  • Mai 10
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Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 8 de maio de 2022. Leia o original aqui.

 

Há riscos da cadeia de abastecimento para os seguros de mercadorias mas deveremos estar a assistir a uma normalização das tensões logísticas.

Se o ano de 2021 foi desafiante para a logística, o arranque de 2022 superou as melhores previsões. As tensões são constantes e têm vindo a aumentar, mas uma análise recente dos analistas da seguradora Crédito y Caución antecipa alguma normalização.

Refere que há dois riscos fortes neste momento que são a China que está a implementar a tolerância zero quanto à pandemia e a continuação da guerra na Ucrânia que, por enquanto, não revela indícios de terminar, independentemente da data de 9 de maio ser relevante para o regime de Putin. A seguradora antecipa a redução das pressões globais sobre as cadeias de fornecimento “à medida que a procura das famílias se transfira dos bens para os serviços e assuma que terminem os encerramentos de fábricas relacionadas com a pandemia”. Avança que em 2022 há indícios de relaxamento dos constrangimentos e de nivelamento dos custos de transporte internacional.

A guerra na Ucrânia tem tido impacto nas tensões logísticas, muito embora a Rússia e a Ucrânia, os dois países em conflito, não sejam grandes exportadores de produtos manufaturados, mas as sanções, os fechos de fábricas e as dificuldades em transportar mercadorias para fora da Ucrânia “estão a afetar negativamente setor automóvel europeu”. Lembremos que a Rússia é um grande fornecedor mundial de fertilizantes, responsável por 13% da produção global; ainda de níquel, responsável por 12% do comércio global; platina com 13% e ainda petróleo e gás com 10% da produção mundial, mas com um cliente de primeira grandeza: a União Europeia. Aliás, sendo a Rússia o segundo maior produtor mundial de petróleo, todas as ameaças de sanções às exportações deste produto e a incerteza em termos de fornecimentos (com a Rússia a tomar a iniciativa de corte à Polónia e à Bulgária) e a exigência de pagamento em rublos, “estão a exacerbar a tensão no mercado”, diz a mesma fonte seguradora. E o melhor exemplo está no gás europeu que apresenta uma volatilidade nunca vista com o preço a subir seis vezes até março último quando comparado com o mês homólogo de 2021. Apenas a Lituânia conseguiu, até ao momento, cortar completamente a compra de gás com origem na Rússia. Alerta ainda a mesma fonte que existe ainda um outro risco a afetar as cadeias de abastecimento e que é o eventual encerramento de portos russos. O resultado será uma redobrada pressão inflacionista sobre o custo do transporte marítimo.

As seguradoras, conta Pedro Maia da WTW, poderão ficar com as estruturas sobrecarregadas “e as peritagens e a cobrança de indemnizações irão sofrer atrasos”. Aconselha obter comprovativos sobre “a forma e o estado da entrega de mercadoria previamente ao transporte, bem como evidência da inspeção prévia ao embarque”. Aliás, um trabalho da consultora WTW realizado antes do início da guerra na Ucrânia evidenciava as dificuldades e os riscos nas cadeias de abastecimento. Um dado colateral mas que as seguradoras terão de ter em consideração será o crescimento de insolvências nos mercados mundiais. Este facto é explicado, segundo a mesma seguradora, por “incumprimentos adicionais provenientes e empresas zombie”. Durante a pandemia os níveis de incumprimento contraíram muito abaixo dos níveis pré-pandémicos e, referem os mesmos analistas que “quando os apoios públicos forem retirados, estas empresas irão entrar em incumprimento”. Antecipam que em 2023 haverá um nivelamento para os números médios. Lembram que a retirada de apoios públicos já se fez sentir nas insolvências em países como Itália, Espanha e República Checa, contrastando com mercados que estão mais atrasados na normalização como os EUA, Portugal, Holanda, Coreia do Sul e Nova Zelândia.