Governo tem de fazer “melhor gestão das florestas”, diz especialista em alterações climáticas

  • Jul 27
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Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 22 de julho de 2022. Leia o original aqui.

 

“O que seria desejável era criar incentivos para que os proprietários de facto se interessassem” na gestão florestal, apontou ao JE o presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

O país abandonou a situação de alerta, mas o cuidados com as florestas continuam a ser importantes para travar incêndios. Em declarações ao Jornal Económico, o presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS) e especialista internacional em alterações climáticas, Filipe Duarte Santos, disse que neste momento resta ao Governo melhorar a gestão da floresta.

Quando confrontado sobre as alternativas que o executivo de António Costa poderia encontrar para resolver o problema com as florestas, Filipe Duarte Santos respondeu que “aquilo que há a fazer é ter uma melhor gestão da floresta em Portugal”. Para que se faça uma melhor gestão o Governo precisa “aumentar o valor económico da floresta para os proprietários”.

“O que seria desejável era criar incentivos para que os proprietários de facto se interessassem ou no caso de serem proprietários com floresta abandonada que não estão interessados aí deveriam arranjar um mecanismo para se dê outra titularidade aos terrenos”, sublinhou o especialista, acrescentando que existem “muitas associações de proprietários que estão interessados a fazer a boa gestão, mas o diálogo com as entidades governamentais tem sido difícil”.

Filipe Duarte Santos lembra que “uma das ações que o governo de Portugal indica para cumprir o acordo de Paris é aumentar a sua área florestal para assim ter mais emissões negativas”.

O presidente do CNADS também defende que seria “natural que no Instituto da Conservação da Natureza e Florestas houvesse um departamento que estivesse centrado nas questões da produção florestas dos privados”. No entanto, a seu ver, o ICNF está “alheio a esta realidade”.

A par com as restantes sugestões, Filipe Duarte Santos apontou a ainda a solução de “floresta em mosaico, muito diversificada, onde exista uma alternância entre terrenos agrícolas com a floresta com diferentes espécies florestais”.

“Para que as florestas resistam a este risco de incêndio florestais é necessário que adaptemos a floresta a um clima que é essencialmente mais quente e mais seco”, considerou o representante do CNADS.

Os dados mais recentes, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que a área ardida nos incêndios em 2021 foi de 28,47 mil hectares, a segunda mais baixa da última década.

Quanto ao que os portugueses podem esperar dos próximos anos, Filipe Duarte Santos admitiu ainda que “não é possível sabermos se vamos ter uma seca no próximo ano ou uma onda de calor ou quando vamos ter uma onda de calor”. “Agora, o que sabemos é que as secas em vez de serem relativamente raras como eram no passado e agora temos secas de dois em dois anos, de três em três”, concluiu.