Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 28 de agosto de 2022. Leia o original aqui.
“Este ano andamos à volta de 50 a 60% porque não há água, as pessoas têm medo de fazer encomendas e depois não conseguirem plantar e nós não semeamos a mais”, afirma à Lusa Luís Pereira, sócio-gerente da empresa, que aponta para uma quebra de 50% na produção de couves na próxima campanha.
Sem água no rio e com a captação subterrânea abaixo dos níveis normais devido à seca, Pedro Guilherme soma quebras na produtividade e prejuízos nas culturas de hortícolas, que levam este agricultor da região Oeste a abrandar a atividade.
Aos prejuízos já contabilizados da batata e das couves da última campanha, com preços de venda baixos e custos de produção elevados, este horticultor começa agora a fazer contas à sua produção de abóboras, prejudicada pela seca.
“No ano passado fiz à volta de cinco hectares, tive uma produção muito maior. Este ano tenho os mesmos hectares, mas devo ter à volta de 40 mil quilogramas a menos devido à seca”, explica à agência Lusa.
As altas temperaturas e a falta de água trouxeram doenças e problemas de crescimento a estes hortícolas.
“Tinha um rio que passava aqui onde ia buscar água quando precisava, mas há três meses não corre aqui um pingo de água. O furo começou a tirar quatro mil litros por hora e neste momento está a tirar mil e quinhentos”, diz.
Com as incertezas quanto à disponibilidade de água nos próximos meses, Pedro Guilherme ainda não decidiu se vai plantar os 80 mil pés de repolhos que encomendou para plantar em outubro.
“O furo está mesmo em baixo. Não está previsto vir chuva tão cedo, então não sei se vou plantar ainda. Se não tivermos água, como vou plantar?”, questiona.
Pedro Guilherme é um dos muitos agricultores que, devido à falta de água, tem vindo a reduzir a área de cultivo e a restringir as encomendas de plantas para a campanha de couves do próximo inverno.
Nos viveiros de plantas Pé da Planta, no concelho da Lourinhã, cerca de metade da área de 3,8 hectares está ocupada, devido à redução do número de encomendas, por receio que a seca esteja para ficar nos próximos meses.
“Este ano andamos à volta de 50 a 60% porque não há água, as pessoas têm medo de fazer encomendas e depois não conseguirem plantar e nós não semeamos a mais”, afirma à Lusa Luís Pereira, sócio-gerente da empresa, que aponta para uma quebra de 50% na produção de couves na próxima campanha.
As charcas que a empresa possui para reter as águas da chuva e regar o viveiro de plantas há muito que deixaram de estar cheias e estão a menos de metade da capacidade.
“Se não chover no mês de outubro, começo a ter medo. Onde vou ter água em outubro?”, pergunta.
A Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO) estima para este ano quebras de 40% na produção de abóbora, que foi de cem mil toneladas em 2021, e de couves.
A AIHO pede “urgentemente uma estratégia” para a falta de água no sentido de assegurar o futuro do sector na região.
“Tememos que as próximas campanhas estejam em risco. Hoje, os produtores têm algum receio do que vão fazer porque estamos no verão e não há previsão de chuva. E a próxima campanha está a começar e não temos reservas de água e os furos estão secos”, alerta Renato Gouveia, técnico da associação.
Na região Oeste, os campos deixaram de ter humidade no subsolo e as captações de água subterrâneas deixaram de ter água em abundância com a seca prolongada, por isso são pedidos investimentos em sistemas de retenção das águas das chuvas e dos rios.
Estima-se que mais de metade da produção nacional de hortícolas seja produzida na região Oeste.
O sector hortícola fatura cerca de 500 milhões de euros e emprega entre sete e oito mil trabalhadores quer nas explorações agrícolas, quer nas centrais de processamento e transformação dos produtos.