Nestlé sem impacto direto da guerra nos cereais, mas custos subiram

  • Abr 11
  • 0
  • admin
Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 8 de abril de 2022. Leia o original aqui

 

A diretora financeira da Nestlé Portugal, Carla Parreira, disse que os aumentos médios já efetuados rondaram entre os 7% e os 8% no caso dos preços, enquanto os custos cresceram, em média, 15%.

O diretor-geral da Nestlé Portugal, Paolo Fagnoni, garantiu esta quarta-feira, em Lisboa, que a guerra na Ucrânia ainda não trouxe o impacto direto na importação de cereais, mas lamentou a escalada energética.

“A Ucrânia ainda não está a impactar, diretamente, a nossa companhia. Os cereais são essenciais para nós, mas não estamos a comprar cereais às áreas afetadas — Ucrânia e Rússia”, afirmou Fagnoni, que falava aos jornalistas em Lisboa.

A Nestlé está, neste momento, a comprar cereais em Portugal, Espanha e França.

Contudo, ressalvou, que, à semelhança do que acontece com as outras companhias, a Nestlé está a ser afetada pelo aumento dos custos de produção, sobretudo, energéticos. “Desde o início do ano, já temos um aumento energético de seis ou sete milhões de euros, que abrange desde o gás natural à eletricidade”, acrescentou o responsável.

Paolo Fagnoni vincou ainda que a companhia está a identificar sinergias e a poupar custos para que estes aumentos não venham, novamente, a refletir-se no consumidor.

O diretor-geral da Nestlé Portugal lembrou ainda que, no futuro, a procura mundial vai afetar outros produtores, face ao conflito na Ucrânia, podendo acarretar alguns constrangimentos.

Além das questões ligadas aos cereais, este responsável sublinhou que o óleo de girassol, “muito utilizado nos produtos”, também é produzido na Ucrânia, por isso, a empresa está a resolver esta questão adaptando a receita dos produtos.

Fagnoni garantiu que isto não levou à descontinuação de produtos do mercado, embora tenham sido retiradas algumas referências do portfólio.

Relativamente à decisão da Nestlé manter a presença na Rússia e na Ucrânia, o diretor-geral da Nestlé Portugal vincou que o grupo “trabalha para as necessidades dos consumidores e não para organizações políticas” e, portanto, vai continuar a entregar “alimentação basilar”, honrando os seus compromissos com os consumidores e trabalhadores.

Em Portugal, a empresa recebeu alguns contactos e queixas face a esta decisão, que não se refletiram nas vendas finais.

“Este ano, provavelmente não vamos ter lucros na Rússia, mas, se tivermos, vai ser aplicado nas operações que estamos a desenvolver. Temos feito um trabalho imenso com a Cruz Vermelha e com outras organizações humanitárias”, referiu.

No que se refere aos aumentos já efetuados, Paolo Fagnoni destacou o café e alguns produtos de alimentação infantil e animal.

“Agora não temos planeado um novo aumento de preços. Temos de monitorizar a evolução e a nossa estratégia, mediante o aumento dos custos. Sabemos que a elasticidade do consumidor face ao preço não é infinita”, reiterou.

Segundo dados avançados, na mesma sessão, pela diretora financeira da Nestlé Portugal, Carla Parreira, os aumentos médios já efetuados rondaram entre os 7% e os 8% no caso dos preços, enquanto os custos cresceram, em média, 15%.

Ainda no que se refere às matérias-primas, a Nestlé tem um projeto com 68 agricultores, num total de 3.800 hectares, para melhorar a forma de produção, apostando numa atividade regenerativa.

O objetivo passa por substituir as práticas agrícolas intensivas por uma agricultura regenerativa, promotora de solos saudáveis.

Para 2022, a empresa espera um ano “com estabilidade de volume”, destacando oportunidades nos segmentos Nestlé Professional ou nos produtos Nespresso.

Assim, a Nestlé Portugal deverá crescer, este ano, entre 5 e 6%.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,2 milhões para os países vizinhos.

Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

A Nestlé está presente em 187 países em todo o mundo, contando com 291.000 colaboradores.

Entre as marcas da Nestlé encontram-se a Cerelac, Nestum, Mocambo ou Sical.

Em Portugal, a Nestlé está presente desde 1923 e tem 2.347 trabalhadores.

Além das duas fábricas, a Nestlé tem um centro de distribuição em Avanca e cinco delegações no Continente e ilhas.