Ucrânia abastecia 41% do milho. Portugal obrigado a procurar alternativas no mercado

  • Jun 29
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Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 22 de junho de 2022. Leia o original aqui.

 

Portugal aumentou a área plantada de milho, mas não chegou para substituir a produção ucraniana. Canadá, Brasil e Polónia são alternativas.

A instalação das culturas de primavera está a decorrer com normalidade apesar da seca e do aumento dos preços dos produtos agrícolas, de acordo com um boletim com dados agrícolas dado a conhecer esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

“As previsões agrícolas, em 31 de maio, apontam para a normal instalação das culturas de primavera, numa conjuntura fortemente marcada pela seca, pela escalada dos custos com os meios de produção, pela subida dos preços dos produtos agrícolas e pela suspensão das transações comerciais com a Rússia e a Ucrânia”, explica o organismo pública no mesmo boletim.

No que diz respeito à área semeada de milho – parte fundamental da produção pecuária -, o INE aponta para uma subida de 5%, o que terá um impacto reduzido na satisfação das necessidades de abastecimento; a produção em Portugal representa, em média, 25% do consumo interno.

“O abastecimento externo de milho a Portugal era assegurado em 41% pelas importações da Ucrânia (média 2012-2021), país que era o principal fornecedor nacional, obrigando à procura de alternativas no mercado mundial”, aponta o INE.

De acordo com o INE, nos dois primeiros meses da guerra iniciada em 24 de fevereiro, a compra de milho ao Canadá, Brasil e Polónia aumentou significativamente, ascendendo a 140 mil toneladas, o que permitiu compensar a suspensão das transações comerciais com Kiev.

“Apesar do agravamento da situação de seca meteorológica, com 98,5% do território em seca severa e extrema, apenas existem restrições de rega nos aproveitamentos hidroagrícolas beneficiados pelas albufeiras do Monte da Rocha e da Bravura”, é ainda referido no mesmo boletim.

Quanto ao volume de água das principais albufeiras com aproveitamento hidroagrícola, o INE dá conta de um armazenamento de 67% da capacidade total, o que não é “um fator limitante para a instalação das culturas anuais de regadio”; o decréscimo de 5% na área de arroz deveu-se exclusivamente às obras de manutenção dos canais de rega de Alcácer e Grândola.

No que diz respeito à área contratada de tomate para indústria, o instituto dá conta de um aumento de 4%, “ao qual não será alheio a perspetiva de subida do preço do tomate para a indústria aquando da celebração dos contratos”.

“Na batata de regadio, o decréscimo de 10% na área é, em parte, explicado pela proibição de utilização de antiabrolhantes de síntese à base de clorprofame”.

Quanto aos cereais de outono-inverno, o INE estima que o impacto da seca nas produtividades corresponda a um decréscimo entre 10% a 15% o que, aliado a uma área semeada historicamente baixa, agravará a dependência do abastecimento externo.

“Nas fruteiras, em particular nas prunóideas, as condições meteorológicas não foram favoráveis, prevendo-se decréscimos de produtividade de 15% na cereja e de 10% no pêssego”, de acordo com o INE.