Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 20 de janeiro de 2022. Leia o original aqui.
O investigador Paulo Matafome, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, avaliou o impacto dos açúcares dos sumos de fruta na diabetes tipo 2 e concluiu que os açúcares adicionados diminuem a capacidade antioxidante na diabetes, comparativamente aos naturalmente presentes em sumos de fruta.
Paulo Matafome, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, estudou o impacto dos açúcares dos sumos de fruta na diabetes tipo2 numa população de ratos diabéticos e procurou determinar os níveis de glicémia imediatamente após a ingestão de diferentes sumos de fruta e de soluções açucaradas com quantidade e perfil semelhantes de açúcares.
“Uma das conclusões aponta para o facto de as soluções açucaradas causarem um maior aumento da glicémia e diminuírem a capacidade antioxidante total dos glóbulos vermelhos nesse período, quando comparado com sumos de fruta, que apenas contêm açucares naturalmente presentes”, afirma o investigador.
Em comunicado, a Universidade revela que outra das questões avaliadas foi o impacto do consumo crónico de sumos de fruta e de um volume equivalente de soluções açucaradas no metabolismo. E ao contrário dos sumos (sem adição de açúcares), as soluções açucaradas aumentaram a glicémia, mas tiveram um impacto moderado nos marcadores de stress oxidativo e glicação, marcadores usados para avaliar a lesão dos tecidos.
O estudo demonstrou igualmente que o consumo sem restrições de bebidas açucaradas levou a uma desregulação do balanço energético, e a uma maior ingestão calórica em comparação com os sumos de fruta quando administrados também sem restrições. Verificou-se ainda que os animais com acesso livre a bebidas açucaradas apresentavam um aumento do peso corporal e glicémia em jejum, bem como um aumento do stress oxidativo e glicação em vários tecidos.
O consumo crescente das chamadas dietas ocidentais, com quantidades elevadas de alimentos e bebidas ricas em açúcar e gordura, mas pobres em micronutrientes e fitoquímicos, está associado a um maior risco de obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2, com grande impacto na sociedade, quer do ponto de vista da saúde, quer do ponto de vista económico. A Organização Mundial de Saúde (WHO) definiu açúcares livres como aqueles que são adicionados ou estão naturalmente presentes em determinados alimentos, onde se incluem os sumos de fruta e estabeleceu o limite do seu consumo em crianças e adultos como 5-10% do consumo energético diário.
“A definição de açúcares livres inclui aqueles naturalmente presentes nos alimentos, como os sumos naturais de fruta ou o mel, bem como os adicionados, não fazendo distinção entre açúcares adicionados e naturalmente presentes. Os alimentos com açúcares naturalmente presentes, têm outros compostos na sua constituição que, em muitos casos, regulam a digestão, absorção e captação celular dos açúcares; tal não se verifica no caso de matrizes simples com açúcares adicionados, como a que serviu de comparação com os sumos no presente estudo. Estes açúcares estão mais expostos a reacções que os convertem em compostos tóxicos, alguns deles associados às complicações da diabetes”, conclui Paulo Matafome.
O estudo contou com o apoio da SUMOL+COMPAL, uma das principais empresas portuguesas de bebidas de sumo de fruta.