O cabaz de bens alimentares essenciais custa hoje 206 euros, alerta Deco Proteste

  • Jul 26
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Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 22 de julho de 2022. Leia o original aqui.

 

Desde que a guerra na Ucrânia começou, o preço de um cabaz de bens alimentares já aumentou 22 euros. O alerta é da Deco Proteste que revela que para abastecer a despensa de alimentos essenciais, os consumidores podem agora ter de gastar 206 euros. Peixe, a carne, cereais integrais, arroz agulha e óleo vegetal são alguns dos produtos com maiores aumentos de preços.

Para abastecer a despensa de alimentos essenciais, os consumidores podem agora ter de gastar 205,54 euros, revela a Deco Proteste. A organização de defesa do consumidor fez as contas e conclui que, desde que a guerra na Ucrânia começou, o preço de um cabaz de bens alimentares já aumentou mais de 21,91 euros. Pescada fresca, salmão, óleo alimentar 100% vegetal, frango inteiro, farinha para bolos, bolacha Maria, bife de peru, costeleta de porco, febra de porco e grão cozido estão entre os dez produtos que mais aumentaram.

“O preço do cabaz de bens alimentares essenciais registou uma ligeira subida de 0,37% (mais 0,74 cêntimos) entre 13 e 20 de julho, custando agora um total de 205,54 euros. Desde 23 de fevereiro, véspera da explosão do conflito armado na Ucrânia, o mesmo cabaz de produtos alimentares já aumentou 11,94% (21,91 euros)”, avança hoje a Deco Proteste.

Segundo esta organização, desde 23 de fevereiro, têm-se monitorizado todas as quartas-feiras, com base nos preços recolhidos no dia anterior, os preços de um cabaz de 63 produtos alimentares essenciais que inclui bens como peru, frango, pescada, carapau, cebola, batata, cenoura, banana, maçã, laranja, arroz, esparguete, açúcar, fiambre, leite, queijo e manteiga. “Começamos por calcular o preço médio por produto em todas as lojas online do nosso simulador em que se encontra disponível, e depois, somando o preço médio de todos os produtos, obtemos o custo do cabaz para um determinado dia”, explica.

Esta análise, diz, tem revelado incrementos quase todas as semanas, com alguns produtos a registarem subidas de preços de dois dígitos de uma semana para a outra. Segundo a Deco Proteste, na última semana, entre 13 e 20 de julho, os dez produtos com maiores subidas de preço foram os cereais integrais (mais 26%), o arroz agulha (mais 11%), o atum posta em azeite (mais 9%), o tomate (mais 9%), a massa espirais (mais 9%), a perna de peru (mais 8%), os medalhões de pescada (mais 6%), as ervilhas ultracongeladas (mais 6%), os douradinhos de peixe (mais 6%) e a maçã gala (mais 6%).

“Se analisarmos exclusivamente as categorias de produto com maiores subidas de preços entre 23 de fevereiro e esta semana, a carne e o peixe são as que mais se destacam, com incrementos percentuais de 12,7% e 22,5%, respetivamente”, avança.

Os cereais integrais e o arroz agulha foram os produtos que registaram o maior aumento de preço na última semana, com um incremento de 26% e 1%, pela mesma ordem.

Na análise às categorias de produto com maiores subidas de preços, entre 23 de fevereiro e 20 de julho, a Deco Proteste destaca que o peixe e a carne são as que mais se destacam, com subidas de 15,8% e 14,87%, respetivamente. Já os dez produtos que mais viram o seu preço aumentar nos últimos cinco meses (entre 23 de fevereiro e 20 de julho) foram a pescada fresca (mais 44%), o salmão (mais 38%), o óleo alimentar 100% vegetal (mais 37%), o frango inteiro (mais 32%), a farinha para bolos (mais 27%), a bolacha Maria (mais 27%), o bife de peru (mais 22%), a costeleta de porco (mais 18%), a febra de porco (mais 17%) e o grão cozido (mais 17%).

Dependência externa e aumento de custos de produção explicam aumento de preços

Na base do aumento dos preços dos bens alimentares, a Deco Proteste destaca que o problema é histórico: “Portugal está altamente dependente dos mercados externos para garantir o abastecimento dos cereais necessários ao consumo interno. Atualmente, estes representam apenas 3,5% da produção agrícola nacional — sobretudo milho (56%), trigo (19%) e arroz (16%)”.

Assim, Portugal está altamente dependente dos mercados externos para garantir o abastecimento dos cereais necessários ao consumo interno. Atualmente, estes representam apenas 3,5% da produção agrícola nacional — sobretudo milho (56%), trigo (19%) e arroz (16 por cento). E, se no início da década de 90 a autossuficiência em cereais rondava os 50%, atualmente, o valor não ultrapassa os 19,4%, uma das percentagens mais baixas do mundo e que obriga o país a importar cerca de 80% dos cereais que consome.

E, prossegue, se no início da década de 90 a autossuficiência em cereais rondava os 50%, atualmente, o valor não ultrapassa os 19,4%, “uma das percentagens mais baixas do mundo”, frisa, dando conta que obriga o País a importar cerca de 80% dos cereais que consome.

“A invasão da Rússia à Ucrânia, de onde provém grande parte dos cereais consumidos na União Europeia, e em Portugal, veio, por isso, pressionar ainda mais um sector há meses a braços com as consequências de uma pandemia e de uma seca com forte impacto na produção e na criação de stocks”, conclui a Deco Proteste. Destaca aqui que a limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente da energia, necessária à produção agroalimentar, podem, por isso, estar a refletir-se num incremento dos preços nos mercados internacionais e, consequentemente, nos preços ao consumidor de produtos como a carne, os hortofrutícolas, os cereais de pequeno-almoço ou o óleo vegetal.

No peixe, por sua vez, conclui, a subida dos preços poderá estar a refletir o aumento dos preços dos combustíveis, que tem um elevado impacto na indústria da pesca.

Aumento de preços pressiona inflação

A Deco Proteste alerta ainda que os consecutivos aumentos dos preços ao consumidor, nomeadamente em produtos como os combustíveis e a alimentação, estão a contribuir para um aumento da taxa de inflação. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de inflação acelerou para 8,7% em junho deste ano, 0,7 pontos percentuais em relação a maio, mês em que a inflação já tinha atingindo os 8%.