Portugal Foods investe €3 milhões para promover Agroalimentar

  • Abr 19
  • 0
  • marcelo

Como evoluiu a fileira da agroindústria em matéria de internacionalização e inovação nos últimos anos?

Confrontadas com uma conjuntura nacional difícil, em 2008 e nos anos subsequentes, fruto da crise económica e financeira que o País atravessou, as empresas agroalimentares foram forçadas a reinventarem-se com uma grande aposta na inovação de produtos e processos. Melhoraram a qualidade, a diferenciação, a flexibilidade, o marketing e, claro está, o serviço. Observou-se uma sofisticação na gestão das empresas e oferta de produtos sem comprometer a competitividade, sendo possível desenvolver um crescimento sustentável. Hoje em dia, o setor agroalimentar é um dos pilares mais importantes da economia e Portugal é reconhecido internacionalmente como País produtor de excelência.

O desafio foi e continua a ser aliar a tradição à inovação, tendo por base a cooperação entre os vários atores do setor agroalimentar (tecido académico, empresarial e restantes entidades de interface ao longo da cadeia). Esta cooperação tem vindo a intensificar-se, alicerçando a inovação no conhecimento e potenciando, assim, o retorno dos mercados externos ao nível da aceitação do consumidor.

Quais os grandes desafios que enfrentam as empresas portuguesas para competirem num mercado cada vez mais globalizado?

Uma vez que o tecido empresarial é constituído maioritariamente por PME [Pequenas e Médias Empresas], que dificilmente conseguem competir unicamente pelo preço, as empresas agroalimentares devem seguir uma estratégia de diferenciação, quer em termos de qualidade quer de inovação, acrescentando valor por forma a terem um posicionamento distinto. É igualmente importante desenvolverem “Business Intelligence” de modo a obter toda a informação necessária para a criação de uma estratégia, que permita definir criteriosamente os mercados e avançar após um conhecimento adequado. Esta informação pode ser adquirida através de ações de capacitação, troca de experiências e ações de prospeção para conhecimento “in loco”.

Que geografias selecionou a Portugal Foods para promover em 2018 as empresas portuguesas? Qual o orçamento da associação para promoção no exterior?

A PortugalFoods tem baseado a sua atuação em termos de promoção internacional na estratégia de internacionalização do setor agroalimentar 2012-2017, “Portugal Excecional”. Para elaborar este documento analisou a situação internacional, definiu 10 prioridades estratégicas e um modelo de implementação, tendo igualmente identificado os mercados prioritários, onde Portugal deve consolidar posições, e mercados a apostar seletivamente. Esta estratégia tem sido traduzida em ações de promoção internacional organizadas e acompanhadas.

Esta estratégia encontra-se atualmente a ser revista. No entanto, existem alguns mercados que a PortugalFoods continuará a desenvolver, pois necessita de consolidar a sua posição, como é o caso de alguns europeus (Espanha, França, Alemanha e Bélgica, entre outros) mas também países escandinavos e bálticos. Promoverá, ainda, uma estratégia específica de abordagem à América do Norte (EUA e Canadá), Ásia (China, Japão, Coreia do Sul e Sudeste Asiático), Médio Oriente (Emirados Árabes Unidos), América Latina (Colômbia, Chile, Peru e Uruguai) e África do Sul.

São dois os projetos distintos e complementares capazes de potenciar o negócio das empresas: o Projeto Conjunto de Internacionalização que dinamiza o setor de forma transversal nas ações de promoção internacional, e o projeto ao qual chamamos PortugalFoods HUB, que promove internacionalmente categorias de produto e ou necessidades específicas de determinados mercados como, por exemplo, certificações Halal e Kosher, Private Label e Food Service.

Desta forma, é uma estratégia global com vertentes complementares que respondem às necessidades de internacionalização das empresas nacionais. O orçamento previsto para as ações inseridas nestes projetos, até 2020, ronda os três milhões de euros.

Que balanço faz desde o nascimento da Portugal Foods até hoje?

A PortugalFoods nasceu em 2008 e foi reconhecida pelas entidades governamentais como Polo de Competitividade e Tecnologia Agroalimentar, em 2009. Atualmente, conta com mais de 150 associados, na sua maioria empresas. As principais exportadoras do setor mas também entidades do sistema científico e tecnológico nacional e outras com atividades conexas ao setor, que representam a fileira em diversidade, dimensão, capacidade de inovação e capacidade de internacionalização.

Agrega um volume de negócios na ordem dos 2800 milhões de euros. Por sua vez, o Portuguese Agrofood Cluster, consórcio reconhecido pelo Governo em 2017 como cluster do setor agroalimentar português, liderado pela PortugalFoods e que reúne o Inovcluster, o AgroCluster do Ribatejo e a PortugalFresh, e que tem a FIPA (Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares) na presidência do seu conselho estratégico, conta com mais de 400 entidades associadas que representavam, em 2013, um volume de negócios de cerca de 4000 milhões de euros.

Nesta década de atividade, teve um crescimento exponencial da sua rede, reflexo de uma forte atividade em termos de promoção internacional – atualmente com uma média de 30 ações por ano – e de uma aposta clara na inovação do setor através da valorização do conhecimento.

Encontra-se num momento de transição com novos órgãos sociais para o triénio 2018-2020, que marcará uma nova etapa com a revisão da sua estratégia, que permitirá alavancar novos projetos e novas parcerias e formas de atuação.

“Marca Portugal precisa de uma comunicação forte”

Considera que Portugal já tem uma estratégia concertada de comunicação e promoção no exterior?

Portugal é cada vez mais reconhecido como marca de qualidade nos mercados internacionais. Apesar de os consumidores internacionais reconhecerem cada vez mais o que Portugal tem para oferecer, uma aposta no marketing do setor através da marca Portugal é ainda fundamental. A apresentação do cabaz de produtos nacionais, de forma concentrada e concertada, é essencial como uma mostra de força que permita ultrapassar os problemas com os quais ainda nos deparamos a nível de escala e de capacidade produtiva, na maioria dos subsetores.

Assim, a promoção da marca não passa tanto por “mais” marketing, mas por uma aposta numa comunicação forte que promova a imagem de Portugal nos mercados internacionais. É essa a missão da PortugalFoods.

Qual considera ser hoje a visão que as cadeias internacionais de retalho têm dos produtos portugueses?

O setor agroalimentar desenvolveu-se muito na última década. Há dez anos as empresas agroalimentares nacionais passavam despercebidas e o setor estava desagregado. Atualmente, os players internacionais reconhecem o potencial que o setor tem para oferecer. Em Portugal, aliamos a tradição da paixão do “saber fazer” e os sabores genuínos, à alta qualidade, segurança alimentar, inovação e diferenciação, o que torna o nosso País num fornecedor agroalimentar de excelência. Existe um crescendo no lançamento de produtos inovadores, competitivos e apelativos, com um posicionamento diferenciador de conveniência, saúde e sustentabilidade, que respondem às necessidades do mercado global e se traduzem em aumento de exportações.

Por outro lado, o tecido empresarial português, maioritariamente constituído PME, permite uma flexibilidade e customização que nos posiciona de forma diferente nos mercados internacionais. Cada vez mais os compradores procuram soluções à medida que os torne “únicos”. A flexibilidade em termos de inovação, quantidades mínimas de produção e entrega e packaging permitem-nos concorrer nos mercados internacionais de forma eficaz. Os compradores não pretendem ter muito stock nas lojas e Portugal consegue responder a encomendas mais pequenas. Para atingir esta flexibilidade foi e é necessária uma aposta continuada na inovação de produtos, processos e serviços.

Atualmente os setores tradicionais são considerados “case-studies”, aliando tradição e “know-how” à inovação e modernidade.

Que produtos portugueses estão a despertar mais interesse lá fora? Quais as principais tendências de consumo?

Nas grandes tendências que marcam o agroalimentar, Portugal está alinhado com o panorama mundial no que à procura de conveniência e benefícios de saúde diz respeito. Começamos também a valorizar mais as questões de sustentabilidade, o bem-estar animal e ambiental, motivo pelo qual vemos em determinados segmentos um aumento da procura de produtos biológicos e ou locais. Por outro lado, e em virtude de múltiplas motivações, os produtos de origem vegetal ganham destaque nas refeições e snacks. Por fim, verificamos também o fenómeno do artesanal que muito bem se instalou num País de tradição gastronómica como Portugal. Esta é uma tendência forte, onde acrescentamos valor com sofisticação no que de novo trazemos ao mercado do posicionamento “craft”.

Com o início do ano, a PortugalFoods reavivou a discussão das tendências na sua sessão anual dedicada às “Trends2018”. Numa realidade em que cada vez mais é exigida transparência, é necessário tranquilizar os consumidores. A primeira tendência apresentada mostra como é importante explicar melhor os ingredientes. Como, quando e por quem são cultivados os produtos, assim como os métodos de produção. Por outro lado, com o stress do dia a dia, as dietas flexíveis e equilibradas tornam-se indispensáveis à rotina do consumidor. Satisfazer os desejos é importante, através de ingredientes naturais e biológicos, assim como produtos isentos de corantes e conservantes artificiais. Por fim, o reforço da experiência sensorial é mais uma das tendências a destacar, que passa pela combinação de texturas, alimentos frescos e divertidos, de forma a cativar uma geração mais ligada às novas tecnologias.

 

Fonte: Hipersuper