Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 1 de janeiro de 2022. Leia na íntegra aqui.
Os principais desafios, que se colocam atualmente, podem ser organizados em duas grandes dimensões, na opinião de Nuno Canada, o presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.
A primeira está relacionada com a necessidade de, até 2050, “se produzir mais cerca de 60% de alimentos à escala global”, decorrente do aumento de consumo nas economias emergentes, e do aumento da população que, segundo a estimativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), passará dos atuais 7,8 para 9 mil milhões em 2050.
A segunda, acrescenta Nuno Canada, “relaciona-se com o contexto mais difícil em que esses alimentos têm que ser produzidos, principalmente pelo impacto das alterações climáticas, pelo incremento da incidência de pragas e doenças, bem como pela necessidade de produzir os alimentos de forma mais sustentável”.
O desafio central será, por isso, e de forma resumida, produzir mais alimentos, num contexto mais difícil. Para o líder do INIAV, a história já demonstrou, e até pelo contexto de pandemia, que “os grandes desafios só podem ser ultrapassados com mais ciência e mais conhecimento”, finaliza Nuno Canada.
Agricultura de precisão é mais sustentável
A tecnologia terá uma importância central, não só para a fixação das pessoas nos meios rurais, mas também na produção de alimentos com menor consumo de recursos e indo ao encontro dos preços que os consumidores possam pagar. Por outro lado, e segundo o dirigente do INIAV, “será uma peça fundamental para termos sistemas alimentares cada vez mais sustentáveis”.
Para Nuno Canada, a utilização mais intensa e generalizada da agricultura de precisão e da agricultura inteligente, com incorporação e inteligência artificial, vão contribuir de forma decisiva para a sustentabilidade ambiental e económica. Sublinha ainda que “as tecnologias avançadas de digitalização são ferramentas inovadoras, não invasivas, que possibilitam uma gestão contínua, automática e em tempo real de um número cada vez maior de parâmetros produtivos e ambientais”. Permitem, de acordo com o presidente do INIAV, entre outras coisas, a otimização das condições de produção (alimentação, reprodução, sanidade e eficiência produtiva) com grandes repercussões a nível de saúde e bem-estar animal, económicas e ambientais.
A produção animal de precisão é, de acordo com Nuno Canada, de extrema importância e poderá ser desenvolvida em estreita colaboração com as Associações de Raças Autóctones em diferentes cenários de produção. Ainda segundo o presidente do INIAV, “as inovações tecnológicas nos domínios da biotecnologia, tecnologia digital e de processos industriais podem e devem contribuir para a melhoria das abordagens agro ecológicas e de economia circular nos sistemas pecuários”.
Outro aspeto importante, e focado por Nuno Canada, prende-se com as práticas mais inovadoras para produzir alimentos de origem animal e vegetal, que têm vindo a ser implementadas em Portugal, “com impacto muito positivo na sustentabilidade ambiental e económica das várias fileiras agrícolas e pecuárias”.
Para o presidente do INIAV, a eficiência produtiva será o elemento chave para a alimentação global. E destaca que “para além das oportunidades para aumento quer da perceção, quer da aceitabilidade dos sistemas agrícolas e pecuários por parte do consumidor, deverá pensar-se na oportunidade para contribuir para o aumento da eficiência do sistema de produção, com os consequentes impactos positivos na utilização dos recursos”.