The Fladgate Partnership desenvolveu modelo de vinha sustentável premiado

  • Abr 12
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Este artigo foi publicado originalmente n’O Jornal Económico a 10 de abril de 2022. Leia o original aqui

 

Adrian Bridge assinala que este modelo de vinha sustentável tem permitido à The Fladgate Partnership poupanças significativas no consumo de água e de energia, além da aposta crescente na gestão de resíduos e no tratamento de efluentes.

Esta é a sétima de uma série de entrevistas integrada num trabalhado alargado desenvolvido pelo Jornal Económico sobre a sustentabilidade no sector dos vinhos do Porto e do Douro. Após as entrevistas em versão integral ao presidente do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Gilberto Igrejas; a uma fonte oficial da Quinta da Aveleda; a Tiago Alves de Sousa, diretor de produção e enólogo da Quinta da Gaivosa; a Raquel Seabra, Chief of International Cluster and Sogrape Public Affairs; a Tomás Roquette, administrador da Quinta do Crasto; a Paulo Coutinho, enólogo e diretor de produção da Quinta do Portal; e a Pedro Braga, diretor de operações da Quinta de São Luiz, pertencente à Sogevinus, esta semana é a vez de Adrian Bridge, CEO da The Fladgate Partnership,  detalhar os projetos que a empresa lançou e tem em curso neste domínio.

Adrian Bridge assinala o modelo de vinha sustentável desenvolvido pela The Fladgate Partnership, que tem permitido à empresa poupanças significativas no consumo de água e de energia, além da aposta crescente na gestão de resíduos e no tratamento de efluentes.

“Como um grupo independente cujo sucesso é inseparável do sucesso da própria região do Douro, estamos empenhados em proteger a bela região do Douro praticando uma viticultura que é economicamente e ambientalmente sustentável. O futuro do Vale do Douro e do seu ambiente único é também o futuro do vinho do Porto, um dos grandes vinhos clássicos do mundo e uma parte insubstituível do património da humanidade”, assinala Adrian Bridge.

Recorde-se que a The Fladgate Partnership é uma das maiores produtoras mundiais de Vinho do Porto, detendo marcas icónicas como Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn, além de gerir cinco unidades hoteleiras, como o The Yeatman Hotel (Gaia), o Hotel Infante de Sagres (Porto) ou o Palacete Chafariz d’El Rei (Lisboa), além de ter investido mais de 100 milhões de euros no projeto museológico WOW – World of Wine, em Vila Nova de Gaia.

Ao longo das próximas semanas, será ainda possível acompanhar no ‘site’ do Jornal Económico vários testemunhos sobre o que cerca de outros 20 produtores da região estão a fazer ou a perspetivar no domínio da sustentabilidade.

 

Que tipo de medidas de sustentabilidade ambiental têm implementado e quando e porque é que optaram por este caminho?
Estamos empenhados em minimizar o impacto do nosso negócio no meio ambiente e a adoptar, sempre que possível, métodos e técnicas sustentáveis em termos ambientais, sociais e económicos. Para além do nosso premiado modelo de vinha sustentável, o nosso grupo conseguiu avanços nos campos da poupança de água, energia renovável, gestão de resíduos e tratamento de efluentes, estando empenhado em monitorizar e melhorar os resultados nestas e noutras áreas de forma continuada.

Sempre nos mantivemos fiéis às nossas tradições e princípios, tendo bem presente que é a nossa capacidade de nos adaptarmos e de inovar que nos permitem permanecer relevantes para as novas gerações de entusiastas do vinho e de apaixonados pela cultura.

Como um grupo independente cujo sucesso é inseparável do sucesso da própria região do Douro, estamos empenhados em proteger a bela região do Douro praticando uma viticultura que é economicamente e ambientalmente sustentável. O futuro do Vale do Douro e do seu ambiente único é também o futuro do vinho do Porto, um dos grandes vinhos clássicos do mundo e uma parte insubstituível do património da humanidade.

Estamos envolvidos em todas as fases da produção do Vinho do Porto, desde o plantio da vinha e cultivo das uvas à elaboração, envelhecimento, engarrafamento e comercialização. O nosso compromisso com o futuro do vinho do Porto é demonstrado na nossa total dedicação à produção de vinho do Porto com os mais altos padrões de qualidade, no investimento sustentado em todas as áreas de operação da empresa e, por fim, na nossa determinação em preservar o ambiente único da região do Douro através da promoção de uma viticultura sustentável e responsável.

De que forma é que estas medidas de sustentabilidade ambiental se têm refletido na sustentabilidade económica da empresa e como é que essa vertente tem evoluído nos últimos anos?
Criámos (apresentámos em 2002) um premiado modelo de viticultura sustentável que integra uma série de técnicas e estratégias que permitem criar um ambiente equilibrado, diversificado e sustentável nas vinhas e no seu ecossistema, ao mesmo tempo que garantem a qualidade do vinho do Porto produzido pelas videiras. O modelo de viticultura sustentável assenta nas seguintes vectores: § A arquitectura do terreno na defesa da erosão do solo e na beleza da paisagem criada; § A cobertura do solo com ervas espontâneas; § A escolha e a distribuição das castas no terreno em função das suas características e tendo em vista o vinho a produzir; § O amadurecimento das uvas dirigido para o vinho do Porto; § A ausência de rega na vinha; § O modelo de viticultura sustentável permite, nas vinhas de patamares estreitos uma redução de herbicidas de 68%, com abolição total de herbicidas de acção residual.

Sobre o tratamento de efluentes fitossanitários, em 2011, iniciámos a recuperação e tratamento da água de lavagem dos equipamentos utilizados na protecção sanitária das videiras, tendo escolhido o método ‘Heliosec’ e sido pioneiros em Portugal. Sumariamente, consta de um tanque forrado com tela de plástico capaz de recepcionar os efluentes fitossanitários produzidos na lavagem dos equipamentos de pulverização e que, por efeito conjugado da radiação solar e do vento, acabam desidratados.

Nessa altura, planificámos o nosso próprio centro de lavagem de fitossanitários e a sua ligação com a estação de tratamento, bem como apostámos na lavagem com máquina de pressão, com vista a economizar a água usada. Quisemos também introduzir uma variante capaz de contabilizar e limitar o seu gasto. Assim, em vez de escoarmos a água suja directamente para a estação, recebemo-la num contentor intermédio e, dessa maneira, podemos contabilizar a água gasta na lavagem e, assim, permitimos que uma estação recepcione efluentes de outras quintas. Entretanto, multiplicámos os nossos centros de lavagem e, no fim de 2018, podemos dizer que, em média, recuperámos para tratamento em cada ano 24 litros de efluentes fitossanitários por hectare de vinha, ou seja, toda a água de lavagem de equipamentos utilizados nos tratamentos pesticidas. A quantidade de efluente depende da pressão de doença em cada ano, da continuidade entre pulverizações químicas e, claro, da localização da quinta.

O plástico que serve para forrar por dentro o tanque da estação de tratamento e recolher o depósito seco de pesticidas é entregue a uma empresa especializada.

Por outro lado, o conhecimento do impacto real das actividades inerentes ao negócio mediante o cálculo da Pegada de Carbono é fundamental no compromisso para a Sustentabilidade. Neste sentido, promovemos o cálculo da Pegada de Carbono associada ao vinho Late Bottled Vintage (LBV) da Taylor’s nas várias fases da cadeia de valor: fase agrícola, fase enológica e fase de transporte. Para além do conhecimento da pegada de carbono (1.93 KgCO2eq/litro de vinho), conclui-se do estudo oportunidades de melhoria para a gestão e monitorização das emissões, bem como sugestões de ‘ecodesign’ nas suas opções de embalamento.

Procedemos também à redução de 4,4 para 0,7 litros de água por litro de vinho produzido na adega, através –  sobretudo – da redução dos diâmetros de tubagens de massas.

Além disso, a sustentabilidade energética constitui um dos nossos desafios. Têm sido feitos investimentos em projectos de eficiência energética e promoção de geração de energias renováveis. Os nossos painéis solares geram 76,25% da energia consumida no engarrafamento.

Outra área de atuação foi a introdução, em 2017, do equipamento ‘Cleaning in Place’, que permite organizar a lavagem e desinfeção das enchedoras e de todas as tubagens de vinho utilizadas nas linhas de engarrafamento. Isso permitiu a redução em 80% do detergente utilizado nas lavagens de enchedora; a redução em 70% da água utilizada para lavar as tubagens das linhas enchimento; a redução em 75% do gás utilizado no pré-aquecimento da água para lavagem com o permutador de calor; e a reciclagem de águas cinzentas para água não potável (sanitários).